Patriarcado Ecumênico | Notícias do Mundo Ortodoxo
Arquidiocese Ortodoxa Grega da América
O GRANDE CISMA DA IGREJA ECUMÊNICA
Para um melhor entendimento da unidade procurada pelas Igrejas Cristãs hoje, é apresentado um relato sucinto dos reais motivos e acontecimentos que conduziram ao Grande Cisma da Igreja Ecumênica em Ortodoxia Oriental e Catolicismo Ocidental, incluindo também uma lista das inovações acrescentadas pela Igreja Ocidental.Por: Rev. George Mastrantonis
© 1990-1996 Arquidiocese Ortodoxa Grega da AméricaUnidade das Igrejas
O movimento em prol da unidade das Igrejas Cristãs hoje requer um conhecimento dos pontos de vista dos outros bem como da sua própria fé, a fim de proporcionar um ambiente favorável à unidade através de uma melhor compreensão da fé um do outro. Uma aceitação irracional dos ensinamentos e crenças de qualquer Igreja com a qual se procura a unidade, ou uma indiferença em relação à própria fé e doutrina não será uma base sólida para a unidade entre as Igrejas Cristãs.Um Cristão interessado na unidade das Igrejas opor-se-ia igualmente ao fanatismo e à indiferença. É necessário estudar sua própria fé e as crenças dos outros, tanto no passado como no presente, com humildade e simpatia; invocar a graça de Deus para guiar sua compreensão de ambos os pontos de vista; distinguir entre verdades divinas para a salvação e os costumes e práticas de sua Igreja e das várias outras Igrejas.
Se a unidade é procurada entre a Igreja Ortodoxa Oriental e a Igreja Católica Romana, é indispensável que as razões e causas da separação entre estas Igrejas sejam cuidadosamente estudadas à luz das circunstâncias e personalidades da época em que ocorreu a separação.
Quando a Igreja era Una e Indivisa, proclamando a mesma fé e tendo o mesmo tipo de administração, a parte do Oriente protestou contra o Ocidente por causa de inovações posteriores, que eram estranhas às crenças e práticas estabelecidas pelos Sete Sínodos Ecumênicos dos oito primeiros séculos. A reivindicação do primado do Bispo de Roma, que posteriormente resultou na proclamação de sua infalibilidade, é considerada a principal causa de separação da parte Ocidental da Oriental.
Um estudo sumário dos acontecimentos e incidentes desta separação - chamada o Grande Cisma - é apresentado nas páginas seguintes a fim de fornecer fatos necessários para um melhor entendimento e possível resposta pela unidade destas Igrejas no futuro. São enumeradas as inovações formuladas pela Igreja Católica Romana após o Cisma.
Os Motivos Reais do Grande Cisma
O PERÍODO PRIMITIVO DA IGREJA. Apesar de que os Bispos da Igreja indivisa eram (e o são) iguais uns aos outros na administração dos ritos litúrgicos e na doutrina, eles começaram a distinguir-se em dignidade de acordo com a importância dos lugares onde estavam localizadas suas dioceses. Roma, Alexandria e Antioquia eram cidades proeminentes, Metrópoles, naqueles dias. Seus Bispos eram Metropolitanos, e ao Bispo de Roma foi concedida a precedência honorária simplesmente porque Roma era então a capital política do mundo. Posteriormente, os Bispos das capitais de todas as Províncias civis foram intitulados Arcebispos. Quando o Imperador transferiu sua sede de Roma para Constantinopla, ao arcebispo desta nova capital foi concedida a mesma reverência que ao de Roma "porque Constantinopla era a 'cidade do Rei' "; posteriormente em 587, também lhe foi conferido o título honorário de "Ecumênico". Por volta de 451 os Bispos de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém eram chamados Patriarcas, dos quais apenas dois permaneceram livres após as invasões dos Muçulmanos (século VII): o de Roma, no Ocidente, e o de Constantinopla, no Oriente, ambos equivalentes em distinção e reverência. Mais tarde, a tentativa de supressão da posição de dignidade equivalente das duas Sedes foi a principal causa da Grande Separação.As Pretensões dos Bispos de Roma. O Bispo de Roma, ainda hoje no século vinte, sustenta que tem uma primazia de jurisdição sobre todas as Igrejas, inclusive sobre os Patriarcas do Oriente. Alega que estes deveriam encontrar-se a ele submetidos, uma vez que "ele não é somente o Bispo de Roma e o Patriarca do Ocidente, mas também o Vigário de Cristo na Terra, o sucessor de São Pedro, e o Sumo Pontífice". O Papa Pio XII, em 1955, apelou para que as Igrejas "Uniatas" fizessem o máximo para trazer as Igrejas Ortodoxas ao "rebanho". Era dito aos Ortodoxos Orientais que não seria necessário modificar quaisquer das doutrinas ou costumes da Igreja Ortodoxa, exceto submeter-se debaixo da jurisdição do Papa; ou seja, perder todos os direitos à liberdade e independência. Em outras palavras, é solicitada uma rendição incondicional sob o jugo do Papa. Porém os princípios de governo democrático da Igreja Ortodoxa Oriental são seus verdadeiros fundamentos. A "Consciência da Igreja" é sua autoridade suprema e o guia infalível para proclamar a verdade da Salvação, tal como por séculos foi o caso para a Igreja Ocidental também. A questão, portanto, é que a supremacia do Papa foi o principal motivo da separação das Igrejas do Oriente e do Ocidente. É uma pretensão legítima? Como e quando os Papas começaram a reivindicar tal autoridade?
A Evolução das alegações de Supremacia do Papa. As origens da alegação de supremacia do Bispo de Roma sobre os chefes políticos e eclesiásticos são encontradas nas tradições de Roma pagã, onde o Imperador era o Pontífice supremo.
Milhões de cristãos antigos foram perseguidos e massacrados porque se recusaram a adorar o Imperador como a Deus. Seu precioso sacrifício não destruiu a super-potestade; foi aproveitada apenas para substituir o Imperador pagão pelo Papa Cristão(*).
Portanto, neste contexto, alguns dos bispos de Roma inventaram e fabricaram teorias fictícias do "direito divino" do papa de governar os negócios de Estado bem como os da Igreja. As reivindicações desse modo dividiram a Igreja, que por natureza e princípio era destinada a ser Una; os bispos promoveram guerras, criaram inquisições, forçaram o Grande Protesto no Ocidente e, finalmente, desenvolveram teorias tais como a infalibilidade, e tudo isto em nome de Deus!
Essas teorias fictícias, que foram destinadas a ser reconhecidas como verdadeiras por alguns séculos, entretanto mais tarde identificadas claramente como as fraudes mais habilmente forjadas, são três: as Pseudo-Clementinas, os Decretos do Pseudo-Isidoro e a Doação do Pseudo-Constantino.
Os Escritos Pseudo-Clementinos - A Tentativa de Promover Pedro e a Sé de Roma ao Poder Supremo. Os escritos Pseudo-Clementinos eram "Homílias" (discursos) espúrios erroneamente atribuídos ao Bispo Clemente de Roma (93-101), que tentavam relatar a vida do Apóstolo Pedro. O objetivo era um só: a elevação de Pedro acima dos outros Apóstolos, particularmente o Apóstolo Paulo, e a elevação da Sé de Roma diante de qualquer outra Sé episcopal. "Pedro", era alegado, "que foi o mais hábil de todos (os outros), foi escolhido para iluminar o Ocidente, o lugar mais escuro do Universo".
As "Homílias" foram escritas para amoldar a interpretação equivocada de Mateus 16:18-19, que "tu és Pedro, e sobre esta rocha edificarrei minha igreja . . . e dar-te-ei as chaves do reino do céu". É equivocada porque a palavra "rocha" não se refere a Pedro, mas à fé em que "Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo" (v. 16). Não há mencionado na Bíblia um só sinal da primazia de Pedro sobre os outros Apóstolos e, se uma primazia era pretendida, uma decisão de tal importância e magnitude certamente teria sido mencionada na Bíblia em linguagem inequívoca. Em muitos casos o contrário é verdadeiro; Paulo escreveu aos Gálatas, "eu me opus a ele (Pedro) em rosto, porque ele estava sendo censurável" (2,11); além disso, é bem sabido que Pedro negou Cristo por três vezes. Pedro não fundou a Igreja de Roma; ele efetivamente permaneceu em Antioquia por vários anos antes de chegar a Roma. Dizer que, assim como Cristo reina no Céu, Pedro e seus sucessores os papas governam a Terra, é uma afirmação contrária ao espírito do Evangelho e ao entendimento da Igreja antiga. Cristo era e é a pedra angular e a Cabeça da Igreja, que consiste de todos os membros de Seu Corpo (cf. Col.1:24).
Os Decretos Pseudo-Isidorianos e a Doação Pseudo-Constantiniana - A tentativa de legitimar o governo papal. Estes Decretos são uma compilação, preparada no século IX, consistindo de cânones de sínodos bem como de falsos decretos do Papa, os quais foram acrescentados mais tarde. Com relação a esses decretos foi dito que "nenhuma outra ilegitimidade na história do mundo foi feita com tanta perícia, e nenhuma outra falsificação teve tais consequências", assim escreveu um grande historiador. A ilegitimidade encontra-se na hábil adulteração das fontes canônicas de tal modo que a autoridade suprema do Papa foi seu resultado concreto. O Sacerdócio, concluíram eles, está acima da autoridade política; e o principal dentre o Clero é o Papa; o Papa então é a "Cabeça do Universo" (caput totius orbis). Esta "conclusão" é confirmada por uma outra engenhosa falsificação, a de que Constantino o Grande legou ao Papa, como uma Doação, o poder político de sua posição em Roma!
Essas muito práticas peças de falsificação apenas esperavam um perito para fazê-las cumprir à força - o Papa Nicolau I. O Papa Nicolau I (858-867), uma personalidade enérgica, qualificou-as como "monumentos antigos" e fê-las impor aos bispos e autoridades políticas do Ocidente. Dele foi dito que "Nicolau tornou-se Imperador de todo o mundo". Em seguida ao período de má reputação dos papas e do clero, essas falsificações tornaram-se os métodos oficiais para a nova reforma e probidade moral do clero. Consequentemente, os decretos de Pseudo-Isidoro prevaleceram e constituíram o "primado" do Papa. Historiadores bem como sábios católicos reconhecem que esses "Decretos" têm sido demonstrados como falsificações; não obstante, eles foram usados como o fundamento em prol da supremacia do Papa. Por quanto tempo os próprios papas continuarão a acreditar na firmeza de sua casa sem uma fundação sólida? Os papas continuam tentando conquistar todas as igrejas e especialmente a Igreja Ortodoxa Oriental utilizando-se de um novo instrumento: a Igreja Uniata. "Retornem ao rebanho" é uma arenga que se ouve de tempos em tempos. Possivelmente resulta de um complexo de inferioridade religiosa, no que se refere à verdade e aos fatos históricos. A Igreja Oriental é "o sustentáculo e o baluarte da verdade" que tem sido preservada, "em todo lugar, a qualquer tempo", contra as pretensões ilegais ou intromissões da Sé do Ocidente. O "rebanho" está onde a "verdade" é mostrada; onde o Único Pastor é reconhecido como sua Cabeça, Jesus Cristo. A esse "rebanho" a Igreja Ocidental está convidada a reunir-se, pela revogação das "inovações" e o pretexto de supremacia do Papa à custa do "rebanho".
Incidentes efetivos que conduziram ao Cisma
Resumo dos incidentes do Grande Cisma: Quatro separações entre as partes Oriental e Ocidental da Igreja Indivisa tiveram lugar sem uma declaração oficial de cisma, e demorou de 15 a 50 anos até que as igrejas retornassem novamente à união. O grande e último cisma resultou de uma série de incidentes entre os lados Ocidental e Oriental da Igreja que continuou por aproximadamente duzentos anos (863-1054). No início e no final houve alguns atos de excomunhão de ambos os lados. Durante este período de silêncio, a indiferença e o ódio predominaram de lado a lado, aniquilando a última fortaleza da União.A Eleição do Patriarca Fócio de Constantinopla. Fócio, um leigo eminente, o principal Secretário de Estado, cuja "virtude, sabedoria e competência eram universalmente reconhecidas", foi apontado e eleito (857) como Patriarca de Constantinopla diretamente de uma lista de leigos, em substituição ao Patriarca Ignatius. O Papa Nicolau, vendo uma oportunidade favorável para interferir em assuntos do Oriente, apresentou-se a si mesmo como juiz, por sua própria autoridade, sobre as duas partes em conflito e rejeitou a eleição de Fócio. Ele asseverava, por um lado, que Fócio tinha sido feito Patriarca sem sua aprovação, uma pretensão nunca vista, e por outro lado, que ele tinha sido promovido no período de uma única semana, de simples leigo à dignidade de Arcebispo. Naturalmente, o Papa Nicolau não tinha nenhum direito de interferir numa questão destas; pois a eleição foi válida, como por exemplo foi o caso de Ambrósio, um bispo de Milão, e muitos outros leigos que foram promovidos a elevadas dignidades na Igreja.
O Sínodo não reconhece a Alegação do Papa. Quatro anos mais tarde, em 861, em um Sínodo em Constantinopla, os dois partidos, Focianos e Inacianos, decidiram em favor de Fócio na presença dos delegados do Papa. O Papa Nicolau, que ficou furioso porque a Igreja Oriental não se submeteu servilmente a suas exigências arbitrárias, convocou um Sínodo próprio em Roma, em 863, e "excomungou" Fócio, o Patriarca de Constantinopla. A Igreja ignorou mais esta provocação.
A Encíclica de Fócio contra as inovações do Papa. O Papa Nicolau, com o mesmo autoritarismo arbitrário, tentou desligar a jovem Igreja da Bulgária, que foi fundada pela Igreja de Constantinopla e pelo próprio Fócio, de sua fidelidade a sua Igreja Mãe. Em virtude desta atividade anticanônica do Papa Nicolau, Fócio emitiu em 867 sua famosa encíclica aos Patriarcas do Oriente, acusando o Papa: 1) de inserir no Credo a palavra "filioque", significando que o Espírito Santo procede não somente do Pai, mas "e do Filho" também; 2) de intervir na recentemente fundada Igreja da Bulgária, pela repetição do Sacramento do Crisma aos Cristãos Búlgaros, sob o pretexto de que eles tinha sido batizados anteriormente por sacerdotes casados de Constantinopla; 3) de submeter as igrejas do Ocidente; e 4) de interferir em disputas fora de sua própria jurisdição.Fócio destituído e mais tarde reabilitado. O Papa Adriano II, dotado da mesma arrogância e ambição que seu predecessor, aproveitou-se de um momento psicológico nos problemas Orientais para conseguir o que o Papa Nicolau não conseguiu. O Imperador Basílio, que teve a Sagrada Comunhão recusada por Fócio porque ele assassinara seu pai adotivo, o Imperador Miguel, depôs Fócio de seu trono, em 867 e reconduziu Ignatius ao trono patriarcal. O Papa Adriano II tirou vantagem desta situação e exigiu de Basílio a condenação de Fócio, o inimigo comum. O Imperador Basílio convocou um sínodo em 869 e, por coerção, conseguiu que os bispos condenassem Fócio. Os delegados de Adriano e Basílio, violenta e desonestamente, conseguiram o reconhecimento de que o Papa é o "supremo e absoluto chefe de todas as Igrejas, superior até aos sínodos ecumênicos". Este então chamado oitavo sínodo ecumênico (pela Igreja Ocidental) nunca foi reconhecido pela Igreja Oriental, mas após 10 anos foi unanimemente denunciado por um grande Sínodo em Constantinopla, em 879, tanto por Inacianos quanto por Focianos. Este sínodo reconheceu a plena justificação de Fócio e sua valorosa resistência contra o despotismo romano. Fócio é considerado a rocha irremovível contra a qual as vagas violentas de escravidão e prepotência tem sido quebradas. A Igreja agradece ao Senhor, seu chefe Supremo, pela inspiração deste grande homem "por meio de quem a Igreja Oriental conseguiu preservar intactos tanto a fé quanto a liberdade".
Período de Indiferente Silêncio (879-1054). Todavia, nenhum cisma oficial foi declarado por nenhuma das duas Igrejas até 1054. Durante este período de aproximadamente duzentos anos predominou uma sensação de silêncio. Seis gerações não foram suficientes para banir este mau princípio da Igreja. A arbitrariedade da administração humana prevaleceu sobre a solidariedade e o amor, que são considerados a essência e fruto da divina obra e mensagem de Cristo.
A Ruptura Definiva (1054). O selo de separação que foi colocado em 1054, dividindo a Igreja em Oriente e Ocidente, foi provocado por um inofensivo ato do Patriarca Miguel Cerulário. Ele escreveu uma carta ao Bispo João de Trania, na Itália, enumerando as inovações que haviam sido introduzidas pela Igreja Romana, e lhe pediu que desse a esta carta uma ampla divulgação, a fim de que a verdade pudesse prevalecer. Este ato evidentemente prova o fato de que o Patriarca não reconhecia ainda qualquer tipo de cisma. O Papa Leão IX despachou uma violenta resposta, censurando severamente o autor da carta.
O Imperador de Constantinopla, Constantino Monomato, enfrentando uma ameaça a seu interesse político na Itália, necessitava do auxílio do Papa e enviou uma resposta conciliatória, solicitando-lhe que enviasse delegados para reatar relações amigáveis. O Papa enviou o Cardeal Humberto com uma missão diferente, que ele executou completamente. Humberto não se encontrou com o Imperador ou o Patriarca, mas depositou sobre o altar da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla uma bula de excomunhão contra a Igreja Oriental, tentando estigmatizá-la como "o repositório de todas as heresias do passado", e então retirou-se apressadamente. O Patriarca, por sua vez, redigiu uma sentença de excomunhão contra a Igreja do Ocidente, assinada conjuntamente por todos os outros Patriarcas. E deste modo o lacre negro cerrou as entradas das pontes entre Oriente e Ocidente.
A Principal Causa da Separação. A ambição dos Papas (como nós respeitosamente chamamos os Bispos de Roma) era subjugar a Igreja Oriental sob sua autoridade suprema. A Sé de Roma era antiga e apostólica. Seus bispos poderiam, sem maior interferência do Imperador, exercer também uma espécie de autoridade política. Eles começaram muito cedo a apresentar-se como uma corte de apelação, no Ocidente, aos quais todos os problemas deveriam ser submetidos para solução. Eles encontraram um pretexto em prol de sua intromissão em querelas domésticas de Constantinopla durante o século IX, a fim de invadir e subjugar a Igreja Oriental inteira.Um estudioso católico declarou que: "o Papado, a partir do século IX, tentou impor, em nome de Deus, sobre a Igreja universal, um jugo desconhecido até os primeiros oito séculos". A mesma tentativa está em curso hoje com a carta distribuída (1955) pelo Papa Pio XII, incitando os Uniatas a converter o povo Ortodoxo e conduzí-los para debaixo do poder do Papa.
A Reconciliação Pretendida
As Cruzadas e a Reconciliação Forçada". Mais tarde, os cruzados do Ocidente forçaram os Patriarcas Gregos de Antioquia e Jerusalém a renunciarem a suas Sés e, por sessenta anos, impuseram sua dominação bárbara a Constantinopla (1204-1261), saqueando suas riquezas e provocando sua decadência definitiva. Um esforço de "reconciliação" foi, na realidade, uma tentativa para dominar a Igreja Oriental no Pseudo-Sínodo de Ferrara-Florença (1438), onde os representantes da Igreja Oriental assinaram, à força, uma declaração de reunião. Apesar de ter sido proclamada em 6 de julho de 1439, nunca foi aprovada pela Igreja como um todo e foi mais tarde denunciada por um sínodo em Constantinopla, em 1451. A Ortodoxia tem sofrido mais dos Cristãos do Ocidente do que dos Muçulmanos do Oriente. A queda de Constantinopla em 1453 pôs um final trágico a qualquer esforço de reunião.A Possibilidade de Reconciliação e o Posto Honorário do Papa. Por aproximadamente mil anos as Igrejas do Oriente e do Ocidente estiveram unidas, sem de nenhuma forma qualquer tentativa aberta de uma subjugar a outra. A Igreja Oriental nunca promoveu tal pretensão. Ela sempre respeitou a Santa Sé de Roma e seu Bispo, que era tido em conta de ser "o primeiro entre iguais". Este aboliu sua relação fraternal com os outros líderes da Igreja e separou-se a si próprio e à Igreja Ocidental da Oriental. A Igreja Ortodoxa Oriental não aceita a reivindicação do Papa e sua tentativa de poder supremo porque, por centenas de anos, a Igreja indivisa jamais considerou tal pretensão. Há esperança e possibilidade de reconciliação. Está na dependência dos Líderes mais propriamente que do povo das duas Igrejas e, principalmente, do Santo Padre de Roma. A Separação teve lugar em 1054 não por causa de um dogma falso como foi o caso dos hereges. As duas Sés e Igrejas existem lado a lado até hoje. O que tem tornado a situação mais difícil em seguida à separação é que, além da poderosíssima ambição dos Papas por seu poder supremo, a Igreja Ocidental criou um novo tipo de governo e muitas "inovações" e dogmas, alguns dos quais podem ser considerados como costumes locais. As duas Igrejas deverão aceitar os princípios de associação e as Verdades de Fé que a única Igreja indivisa conheceu nos primeiros mil anos de nosso Senhor.
AS INOVAÇÕES
Embora as crenças da Igreja Católica Romana estejam mais próximas às crenças da Igreja Ortodoxa do que estão aquelas de quaisquer outras igrejas, é necessário anotar um pouco as inovações acrescentadas pela Igreja Romana após a separação do Ocidente da Igreja Oriental. Também é necessário mencionar que a atitude da parte Ocidental da Igreja Una, ainda antes do Cisma, não era livre de arbitrariedades. O ramo Ocidental visava centralizar poder administrativo, uma característica inerente às tendências políticas romanas favoráveis a um governo totalitário. A seguir está a relação de inovações.
Primado. A jurisdição episcopal suprema do Papa, que é chamado o Vigário de Cristo (um título do Romano pontífice que data do século oitavo) expressa sua reivindicação de jurisdição universal e implica que os outros bispos não são iguais a ele, mas subordinados como seus representantes - uma pretensão que é estranha à Igreja antiga.Infalibilidade. Em 1870, a Igreja Católica Romana, no Concílio Vaticano, declarou que a infalibilidade (incapacidade de falhar em doutrina a verdade revelada) era atribuída à interpretação do Papa em assuntos de fé e moral, independentemente do consentimento da Igreja. O Concílio Vaticano declarou: "Jesus Cristo tem trés existências. Sua existência pessoal, que Ário negou; Sua existência mística no Sacramento da Santa Eucaristia, que Calvino negou; e Sua outra existência, que complementa as duas primeiras e através da qual Ele vive continuamente, ou seja, Sua autoridade na pessoa de Seu Vigário na Terra. O Concílio, afirmando esta terceira existência, inspira o mundo a fim de que tenha a Jesus Cristo." Nisto, os Sínodos foram abolidos.
A Processão do Espírito Santo. A inserção da frase filioque, ao oitavo artigo do Credo Niceno, significando "e do Filho", para dizer que o Espírito Santo procede não somente do Pai, mas também do Filho igualmente, perverte a doutrina teológica do Evangelho e da Igreja Indivisa (João 15,26; Atos 2,33).
Purgatório e indulgências . De acordo com a Igreja Romana, o Purgatório é um estado intermediário em que almas são purificadas por sofrimento expiatório para o paraíso. É um lugar ou estado para almas penitentes que partiram desta vida serem purificadas de pecados veniais e de castigo transitório que se deve para serem perdoados pecados mortais. Na Igreja Romana, indulgências são uma remissão por aqueles justificados do castigo temporário apesar de pecar após a absolvição sacramental, seja neste mundo ou no purgatório.
A Concepção Imaculada da Virgem Maria. Em 1854, um concílio do Vaticano pronunciou a nova doutrina de que a Virgem Maria nasceu sem pecado original, uma declaração não encontrada, seja nas Sagradas Escrituras ou na Tradição Sagrada (A Igreja Indivisa ensinava e ensina o nascimento virginal apenas de Jesus Cristo). A Igreja Ortodoxa reverencia muito a Virgem Maria como a Theotokos, a única personalidade escolhida por Deus para servir à mais elevada missão próxima à salvação da humanidade, na encarnação de Jesus Cristo.
Assunção da Virgem Maria. A assunção (ascensão corpórea) da Virgem Maria foi decretada como dogma em 1952 pelo Papa da Igreja de Roma. Esta crença não se acha nas Escrituras nem é encontrada na Tradição Sagrada.
Batismo. O Batismo, que originalmente era uma imersão do corpo do fiel na água, foi substituída durante o século XIV na Igreja Romana por aspersão.
Invocação. A invocação, ou epiklesis, que é uma prece apresentada na hora da mudança dos Dons Sagrados (pão e vinho), é omitida pela Igreja Romana, que usa apenas as palavras bíblicas: "Tomai, comei . . . " e "Bebei dele todos vós . . ".
Pão sem fermento - é usado pela Igreja Romana, em lugar de pão fermentado, que era a tradição da Igreja Indivisa.
Sagrada Comunhão. A Sagrada Comunhão na Igreja Romana é dada aos fiéis apenas do pão santificado e não do vinho santificado, que agora é reservado para o clero.
Unção Sagrada. A Unção Sagrada é oferecida aos doentes como ritos finais, uma inovação do século XI.
Divórcio. O Divórcio não é concedido aos fiéis da Igreja Romana, o que a Igreja Indivisa autorizava.
Estado Civil do Clero. O Casamento do clero é proibido, uma restrição imposta nos séculos posteriores, contrária à decisão do Primeiro Sínodo Ecumênico (325 A.D.).
ESPERANÇA DA "UNIDADE DE FÉ"
Um acontecimento histórico de grande magnitude teve lugar em 5 de janeiro de 1964, quando o Patriarca Atenágoras I e o Papa Paulo VI encontraram-se em Jerusalém. Seu "abraço de paz" e declaração de reconciliação foi o primeiro ato oficial por parte das duas igrejas desde o Cisma de 1054. Depois, em 1965 as duas igrejas suspenderam os anátemas e excomunhões aplicadas uma contra a outra em 1054. Estes grandes acontecimentos contudo não modificaram o estado atual de cada igreja, pois o Cisma ainda permanece. Além do mais, as viagens sem precedentes do Patriarca e do Papa à Sé de um e do outro foram o resultado da suspensão dos obstáculos históricos. Isto conduziu ao diálogo entre as duas igrejas pela primeira vez em 900 anos. Estes acontecimentos são sinais auspiciosos de solução dos problemas do Grande Cisma.
Esperança de Unidade das Igrejas Cristãs. A Fé Genuína é uma fé viva de todos os membros do Corpo Místico de Cristo. Não é a Fé de teólogos técnicos nem a de crentes de mente estreita. A Fé Cristã não requer conhecimento de geometria, como foi o caso da filosofia de Platão. O teólogo, que se admite ser mais versado na Revelação Divina, não é um professor de suas hipóteses inventivas, mas antes um instrutor de Verdades que já foram reveladas e podem ser reconhecidas por todo o povo na fé.
A Fé Cristã não é uma teoria ou erudição mas um princípio vivo atuando em todo Cristão sincero. As controvérsias teológicas técnicas são apenas para o "gosto de ciência" de muito poucas pessoas, mas não para os membros do Corpo Místico de Cristo. São antes as pressuposições pessoais de homens eruditos, que se tornaram enredados na teia que eles tramaram, e da qual não se podem libertar. Muitos teólogos técnicos e outros com uma personalidade talentosa e dinâmica, em ocasiões de forte divergência ou numa suposição de um movimento novo, eles próprios têm-se separado ou desligado seus seguidores do Corpo Místico de Cristo, a Igreja Indivisa e Ecumênica.Seus seguidores nunca entenderam os profundos argumentos teológicos envolvidos; nunca seguem tal líder com uma convicção segura de preservação da venerável fé intacta. Eles o seguem por causa de motivos humanos e justificativas superficiais. Nenhum líder nem os seguidores permaneceram unidos ao verdadeiro Corpo Místico de Cristo para lutar, se necessário, pela restauração de qualquer procedimento errôneo ou corrupção dos outros membros do mesmo Corpo. Em vez disso eles deixam como está e são desunidos, constituindo o que eles acreditam ser uma "nova" fé. Todavia, de tais novos grupos têm saído outros também em nome de uma fé mais "genuína", e assim por diante.
Todas as igrejas de Cristo hoje primeiramente deveriam retornar às Verdades da Igreja Indivisa, a Igreja Ecumênica, com humildade e penitência para reconstruir a fé genuína - "a unidade de fé"; sem uma conformidade rígida no que se refere a costumes e ritos.
Os primeiros cinco séculos da era Cristã foi o período durante o qual a base da Igreja foi estabelecida pelo sangue de seus mártires e os ensinamentos e obras de seus grandes Padres. Pelo final do século X a separação da Igreja Una teve lugar por causa da fraqueza humana dos líderes da Igreja, mais propriamente por causa de suas divergências na administração e costumes que sobre as Verdades redentoras da Igreja. Por volta de fins do século XV o movimento teve início contra as discrepâncias dos líderes da época da Igreja Ocidental, mas foi muito mais longe do que as expectativas de seus líderes. Podemos esperar que, pelo menos ao final do século XX, concluiremos a trilogia da síntese hegeliana, ou seja, a unidade de todas as igrejas? Pois a Igreja de Cristo foi concebida para ser Una: "Há um só Corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados por uma só esperança que pertence a vossa vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos nós, que está acima de todos e em todos (Ef 4:5-6)". Nós oramos e temos esperança.
Texto original em inglês traduzido, em 20/01/98, por Luís Gonzaga de Medeiros.
"De fato, o Papa é Deus sobre a terra...
Jesus colocou o Papa acima dos profetas... acima do Precursor... acima dos anjos...
Jesus colocou o Papa no mesmo nível de Deus." !!! ...
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